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Adoção: famílias na fila de espera perseveram com esperança e amparo

O período de aguardo para cada caso é incerto, o que exige maior preparo dos envolvidos

Todo o processo de adoção causa sensações diferentes em cada um, o que culmina em adjetivos divergentes para descrever o período. Por si só, desde a entrada na papelada em uma Comarca do município até a entrada da fila de espera, o tempo padecente é logo. É, antes de tudo, um convite ao passeio pelas memórias mais profundas, podendo resgatar medo e desconfiança, provenientes, também, de opiniões do senso comum.


A bióloga Cíntia de Brito, 36, e o seu marido Jean Silva, 40, decidiram adotar uma criança por conta de um problema de saúde que afetou seu útero, a Endometriose. Ela se operou e com o procedimento veio à esperança de gerar. “Mesmo após a cirurgia o médico me disse que minhas chances de engravidar eram de 1%. Ele me disse que ainda estava sendo muito otimista com o percentual”, confessou Cíntia.


Habilitada desde setembro do ano passado, ela deu entrada ao processo em janeiro do mesmo. Passou por acompanhamento psicológico e cursos para estar apta a entrar na fila de espera. Entre as restrições possíveis, Cíntia fez apenas uma: queria uma criança de zero a quatro anos de idade. “Entendo que uma criança que não entrou ainda na escola, é mais fácil de ser educada. Quero poder acompanhar esta fase dela”, afirma.


Mesmo diagnosticada com a doença, Cíntia engravidou no início deste ano. Mas ela acabou perdendo o bebê com dois meses de gestação. O acontecimento não abalou seu pensamento, apenas serviu para comprovar sua vontade de ser mãe. Durante o período ela e seu esposo participam de um grupo de ajuda e preparo psicológico. “O curso serve, entre outras coisas, preparar nossa mente para suportar as adversidades. A troca de experiências é muito valiosa, pois nós descobrimos coisas novas em conjunto”, explica.


O tempo mínimo de espera para o caso de Cíntia é de aproximadamente um ano e seis meses. Já no caso de Patrícia de Almeida, 39, o prazo mínimo é de dois anos. A professora da rede Estadual está esperando por sua vez já faz dois anos, um desde que deu entrada na parte burocrática e outro logo que entrou na fila de espera. Seu tempo de espera é de dois anos, haja vista que ela quer ter uma menina de zero a seis anos independente de raça.


Toda essa marcha desencadeou em Patrícia e seu marido, Hildenberg de Souza, um sentimento de angustia. Segundo ela, recorrentes ligações são feitas para os integrantes da Comarca de Caucaia para saber qual é sua posição na fila de espera. No inicio deste ano, seis casais estavam a sua frente.


Diferentemente de Cíntia, Patrícia não possui nenhum problema de saúde e, portanto, pode engravidar. Todavia, após uma gestação mal sucedida, ela ficou traumatizada e optou por adotar. Além do incentivo e observação a outros casais, a professora tem em sua família longo histórico de adoção, algo que ela descreve como “um fato curioso”.


Contudo, a vontade tanto de Patrícia quanto de Cíntia em ser mãe ultrapassa o senso popular e pula a barreira do “querer gerar”. Criadas como católicas e, atualmente, espíritas, as futuras mães não se conhecem, porém descrevem semelhantemente a importância de um ser divino em suas caminhadas como “a força para dar passos tranquilamente”. Segundo elas, o tempo de Deus é perfeito e chegará no momento mais oportuno.


A vigente situação de adoção no Brasil

Atualmente, mais de 40 mil crianças e adolescentes se encontram vivendo em abrigos. Ao mesmo tempo, milhares de pessoas desejam adotar um filho, a maior parte desses jovens perdeu a guarda dos pais e estão esperando os mesmos para recuperá-la. Segundo o Cadastro Nacional de Adoção (CNA), do Conselho Nacional de Justiça, existe em torno de 7200 crianças cadastradas para serem adotadas no país, há mais interessados em adoção do que crianças e adolescentes disponíveis para o mesmo. A média no cadastro nacional é de cinco pretendentes para cada jovem disponível.


Em 2016, o número total de adoções ocorridas no país foi de 1201, sendo as de maiores quantidades nos Estados de Pernambuco com 103, Rio Grande do Sul com 169, São Paulo com 216 e Paraná com 338. No Ceará, 514 pretendentes para 186 crianças, apenas 52 foram adotadas.

Nesse ano o Tribunal de Justiça do Ceará realiza semana de atividades para incentivar adoção de crianças e adolescentes. O chefe da Seção de Cadastro do Fórum Clóvis Beviláqua, Deusimar de Alencar, 52, comenta o processo, “Os pretendentes a adotar devem participar de diversas etapas, entre as quais estão curso de capacitação e estudo psicossocial. Após esse período, o candidato pode participar do processo de vinculação com a criança a ser adotada. Essa fase geralmente é dividida em apresentação, visita ao abrigo e passeio monitorado pela Justiça nos finais de semana”.

A idade mínima para se qualificar à adoção é 18 anos, independentemente do estado civil, respeitando a diferença de 16 anos entre quem deseja adotar e a criança a ser acolhida. Os documentos necessários para cadastramento no Fórum são: cópia autenticada da Certidão de Nascimento ou Casamento, da identidade e CPF; comprovante de residência; comprovante e ou declaração de renda mensal dos requerentes; Certidão Negativa de Distribuição Cível; Atestado de Sanidade Física e Mental e dois Atestados de Idoneidade Moral, cada um deles preenchido e assinado por pessoas diferentes, sem grau de parentesco com a(s) parte(s) e com firma reconhecida.


O maior problema na agilidade do processo de adoção é a questão estrutural. Muitas das Varas da Infância do Brasil possuem uma carência enorme de recursos humanos, faltam psicólogos, assistentes sociais, pessoas para trabalhar nos recintos. Diversas vezes, dependendo da situação do Estado, não possui dinheiro para instalar outras Varas da Infância, para aprimorar a agilidade do serviço.

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