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Fora dos moldes tradicionais, famílias se formam com base no afeto e diversidade

Três histórias de adoção que surgem em meio ao amor e às dificuldades da vida

“Adote um sonho ainda este ano, veja-o crescer e agradeça”, é com o verso de uma música gospel que Maria Cleine de Oliveira Pinto, 57, define a experiência da adoção. Casada há 30 anos com Edinilson Oliveira Pinto, conhecido como Didi, 55, os dois têm uma história de muito amor e surpresas ao longo da vida. Recém chegados de uma viagem à Gramado, os dois foram surpreendidos com um bebê na porta de casa. Sem pensar duas vezes, eles adotaram Larissa, primeira filha do casal.


Cleine recorda que colocava em oração o desejo de ter outro filho. Segundo ela, durante um culto, Deus enviou um sinal dizendo que ela seria mãe novamente, mas nunca imaginou que um raio pudesse cair duas vezes no mesmo lugar. Na noite do dia 14 de março de 2009, uma entrega endereçada para o “seu Didi e dona Cleine”, numa cesta de café da manhã trazia na verdade, duas bebês. Negras. E gêmeas.

“E agora?”, ela gritou quando viu do que se tratava. Cleine subiu as escadas e surpreendeu o marido com a encomenda. Ednilson não consegue descrever o que sentiu quando viu as crianças na cesta, “É uma sensação que não dá para explicar, passa um filme na sua cabeça, naquele momento nossa vida estava se transformando para sempre”.


Cleine e Ednilson decidiram na mesma noite adotar as gêmeas Lara e Laura. Laurinha, como é chamada pelos pais, foi colocada dentro da cesta com o lado esquerdo do rosto virado para baixo, o intuito era tentar esconder que ela tinha uma deficiência: o lábio leporino, que se configura como uma abertura no lábio ou no palato. Os pais garantem que o fato da deficiência não mudou em nada o desejo de adoção.


Os pais seguiram com todos os trâmites necessários para legalizar a adoção. Conseguiram a guarda provisória delas, foram avaliados para saber se tinham condições de criar as meninas e se eram pessoas idôneas. Três meses depois, em Junho de 2009, conseguiram a guarda oficial das filhas, com direito até a certidão de nascimento cor de rosa.


Desde muito novas, as crianças sabem que são adotadas. Ednilson conta emocionado que faz questão de colocá-las para dormir sempre que pode, “Quando não vou trabalhar à noite, gosto de colocar elas para dormir e elas sempre pedem: Papai, conta a História das Duas Pretinhas”. Em meio a tantos contos de fadas, esse é o jeito que o pai encontra de fazer as filhas sentirem orgulho da própria história.


Assim como as gêmeas Lara e Laura, as irmãs Gabriela e Julia também tiveram que superar grandes desafios ainda muito novas. Elas ficaram órfãs inesperadamente. Seus pais morreram em um acidente de carro quando elas tinham cinco e três anos respectivamente. Os avôs entraram com o pedido para ficar com a guarda, mas surgiram outros dois interessados: Ana Claudia e Carlos Henrique. Quando a fatalidade aconteceu, os dois eram recém-casados e amigos de longa data dos pais das meninas.

Por acompanhar de perto a situação, o casal que mantinha uma relação de proximidade e afeto pelas irmãs, se solidarizou e resolveu honrar a amizade de longa data, adotando as meninas. Ana Claudia e o marido sempre sonharam em ter filhos, mas nunca imaginaram que seria dessa forma. Segundo ela, o começo foi bem difícil, a perda dos pais mexeu muito com Gabriela e Julia, que já não eram tão pequenas e tinham percepção da realidade. “Todos os dias eu ouvia as duas chorando pedindo para seus pais voltarem, isso me partia o coração, por mais que déssemos todo o amor, não conseguíamos fazer aquele sofrimento passar”, conta Ana Claudia emocionada. A coragem dos pais de adotar duas crianças que estavam tão abaladas, foi recompensada, hoje a família vive feliz.


Divergente da maioria dos núcleos familiares tradicionais, Liana Rangel Borges, 44, abraçou a vontade de ser mãe quando adotou Maria Luiza de dois aninhos. Quando foi adotada, a pequena tinha apenas três dias de nascida. Liana revela que na primeira noite, Maria Luiza só tinha um pacote de fraldas e uma caixa de leite e enquanto ela dormia, a mãe de primeira viagem pensava mil coisas sobre a adoção. “O que mais me fazia chorar era o medo de não amá-la, era uma pessoa que estava entrando na minha vida. E se eu não amasse, como era que eu ia ficar para sempre criando e cuidando de uma pessoa que eu não amo? Mas o amor se constrói no tempo (...) os cuidados iniciais com o bebê é que vão formando o grande laço do amor”.

Por ser mãe independente, Liana sentiu medo e se questionou muitas vezes como ia ser para Malu, como é chamada carinhosamente por ela, crescer sem um pai, ou como ela iria se comportar naquelas festinhas de Dia dos Pais que tem nas escolas. E acima de tudo pelas duas terem cores diferentes. Liana é branca e de cabelos loiros, já Malu é morena. A diferença é muito latente, e a mãe teve medo do preconceito, de como a sociedade ia se comportar diante disso.


“O aconchego dessa maternidade é demais! Fazê-la dormir, buscá-la na escola. Quando você chega na escola e ela larga tudo e se joga nos meus braços (...) é realmente muito reconfortante”, é como Liana define toda a experiência de adoção. Ela define a relação que tem hoje com Malu, usando uma frase da autora brasileira Clarisse Lispector: “Não me lembro mais qual foi o nosso começo. Sei que não começamos pelo começo. Já era amor antes de ser”.

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